quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Uso de estatinas relacionado a risco de Parkinson

BALTIMORE — Novos achados de uma grande base de dados nacional mostraram que o uso de estatinas para redução do colesterol está associado a um aumento no risco para doença de Parkinson (DP), mostrando o contrário de pesquisas prévias, que sugeriam que esses medicamentos tinham efeito protetor para DP.
"Nós identificamos 20.000 pacientes com doença de Parkinson e avaliamos se o uso de estatinas estava associado com um maior ou menor risco, e descobrimos que pessoas usando estatinas tinham um maior risco da doença, o que é o oposto do que se acreditava", disse ao Medscape a autora sênior Dr. Xuemei Huang, vice-presidente de pesquisa no Penn State College of Medicine, Hershey, Pennsylvania.
Embora tenha sido demonstrado que o colesterol elevado apresenta efeito protetor no risco de DP, o papel do uso de estatinas tem sido motivo de debate.
Dentre os estudos apoiando os benefícios há uma pesquisa publicada em 2012 no Archives of Neurology mostrando "uma redução modesta na doença de Parkinson" com o uso de estatinas.
Ao avaliar a questão em um estudo prévio próprio, a Dra. Xuemei e colaboradores de fato encontraram um risco aumentado associado ao uso de estatinas e realizaram o novo estudo para explorar melhor a associação em uma coorte muito maior.
Para o novo estudo, apresentado no Encontro Anual de 2016 da American Neurological Association(ANA), os pesquisadores utilizaram dados das bases MarketScan Commercial Claims Encounters, incluindo informações sobre 30.343.035 pessoas com idade entre 40 e 65 anos entre 1º de janeiro de 2008 e 31 de dezembro de 2012.
Dentre os indivíduos, 21.559 foram identificados como portadores de doença de Parkinson com base nos critérios de diagnóstico primário ou secundário, uso de medicamentos anti-parkinsonianos, ou por terem implantado dispositivo de estimulação cerebral profunda.
Na análise transversal, o uso de medicamentos redutores do colesterol, incluindo estatinas e não estatinas, esteve associado com uma prevalência significativamente maior de doença de Parkinson (odds ratio - OR, 1,61 – 1,67; P < 0,0001) depois de ajustes para idade, sexo e outras comorbidades, como hiperlipidemia, diabetes, hipertensão e doença arterial coronariana.
Para um grupo comparativo com doença neurodegenerativa, os pesquisadores também avaliaram a associação das estatinas com o diagnóstico de doença de Alzheimer, mas encontraram apenas uma associação mínima (OR 1,01 – 1,12; P = 0,055).
As associações entre medicamentos redutores de colesterol e doença de Parkinson foram mais intensas em pacientes com hiperlipidemia e não houve diferença significativa entre estatinas hidrofílicas ou lipofílicas, assim como para outros medicamentos redutores de colesterol não estatinas, quanto ao efeito no risco de Parkinson.
"Sabemos que a literatura em geral favorece a ideia de que o colesterol mais elevado está associado a desfechos benéficos na doença de Parkinson, estão é possível que as estatinas removam a proteção ao tratar o colesterol elevado", explicou a Dra. Xuemei.
"Outra possibilidade é que as estatinas bloqueiem não apenas a síntese de colesterol, mas também a síntese da coenzima Q10, que é essencial para a função celular".
Os pesquisadores também estratificaram as pessoas de acordo com o tempo pelo qual estavam recebendo tratamento usando uma análise combinada de caso-controle com 2458 pares de casos de doença de Parkinson e controles.
Na análise transversal, os medicamentos redutores do colesterol estatinas ou não estatinas estiveram associados ao Parkinson, mas na análise de caso-controle da duração do tratamento, apenas as estatinas permaneceram associadas com o risco de Parkinson de forma significativa.
O maior risco foi associado no período mais precoce após início das estatinas (OR 1,93 para menos de um ano de uso; 1,83 para 1 a 2,5 anos; e 1,37 para 2,5 anos ou mais; P tende a < 0,0001).
"O aumento do risco de Parkinson provavelmente é maior no início do uso das estatinas, então acreditamos que as estatinas possam 'desmascarar' o Parkinson", disse a Dra. Xuemei. "As pessoas podem já estar no caminho para o Parkinson e quando usam as estatinas para controlar o colesterol elevado, isso leva à revelação dos sintomas clínicos de Parkinson".
"Com base nesses dados, acreditamos que deve haver cautela antes de declarar que as estatinas protegem contra doença de Parkinson", acrescentou ela. "Os dados ainda não estão claros".
Uma meta-análise publicada no início do ano na revista Pharmacoepidemiology and Drug Safetysugere que uma razão para as inconsistências nas evidências para o papel das estatinas é que muitos estudos falham em ajustar quanto aos níveis de colesterol.
Nesse trabalho, estudos que não fizeram o ajuste mostraram um efeito protetor das estatinas (risco relativo, 0,75), mas aqueles que ajustaram para colesterol ou hiperlipidemia não mostraram efeito protetor: aqueles que ajustaram para hiperlipidemia tiveram um risco relativo de 0,91, e para o colesterol, o risco relativo foi de 1,04.
"O aparente efeito protetor das estatinas sobre o risco de doença de Parkinson é, no mínimo, parcialmente explicado pela confusão quanto à indicação da estatina", disseram os autores.
Além disso, uma outra meta-análise publicada no Journal of Neurology em 2013 sugeriu que existe um viés de publicação significativo na literatura recente a respeito dos efeitos protetores das estatinas na doença de Parkinson.
"O estudo atual é um dos poucos a relatar potenciais efeitos negativos das estatinas na doença de Parkinson", observou a Dr. Xuemei.
O estudo foi patrocinado por fundos do National Institutes of HealthPennsylvania State University College of Medicine-Milton S. Hershey Medical CenterGeneral Clinical Research Center (GCRC),GCRC Construction e Center for Applied Studies in Health EconomicsOs autores declararam não possuir conflitos de interesse relevantes ao tema.
Encontro Anual de 2016 da American Neurological Association (ANA). Resumo S137. Apresentado em 16 de outubro de 2016.

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